Morante de la Puebla: evolução às origens do toureio sevilhano.




As atenções do mundo taurino convergem nestes dias para a Feira de Sevilha. Cidade taurina como nenhuma outra, dona de uma praça de beleza ímpar, Sevilha foi berço de extraordinários diestros e, mais do que isso, de um estilo: o toureio sevilhano. Toureio de harmonia e graça, de arte e naturalidade, praticado por espadas como Chicuelo, Pepe Luís Vazquez, Manolo González, Pepín Martín Vazquez e Curro Romero. A retirada deste último, em 2000, poderia ter deixado o toureio sevilhano sem intérpretes de realce - não fosse existir um diestro chamado José António Morante Camacho, mais conhecido como Morante de la Puebla. Para muitos aficionados e analistas da festa, Morante personifica a garantia da sobrevivência de um dos veios mais puros do toureio. É o caso do cronista Álvaro Acevedo, que no nº 3 da revista «Cuadernos de Tauromaquia» (Março de 2009) dedicou um extenso artigo ao matador de Puebla del Rio, a que deu o título «Evolução às origens». 
Na opinião de Acevedo, a naturalidade é a característica mais marcante do toureio de Sevilha. «Não há constrangimento nem rigidez, a cintura não se quebra, não há toques firmes, nem o braço se estira para conduzir a investida. A necessidade do mando soluciona-se com a ponta dos dedos, os pulsos e a cintura, sem necessidade de estirar o braço. Tudo é flexibilidade, harmonia e suavidade.»
Numa dada fase da sua carreira, reconhece Acevedo, Morante não era «sevilhano» no que respeitava ao toureio fundamental (passes naturais, pela esquerda ou pela direita, passes de peito). A sua «sevilhania» era visível essencialmente nos detalhes, num kikiriki, num câmbio de mão, numa chicuelina. Hoje em dia, porém, Morante também pratica o estilo de Sevilha no toureio fundamental. Das suas mãos brota «um toureio de naturalidade absoluta, a cintura flexível e a figura erguida», numa forma «de entender a lide baseada no ritmo e em algo quiçá intangível a que chamamos 'graça'». Com o capote desenha verónicas de inexcedível profundidade. Com a muleta mete-se nos costados do touro, quando a necessidade de domínio o justifica, gira em molinetes «abelmontados» e rubrica passes de peito em que a flanela varre o lombo do touro, que desemboca no ombro contrário do toureiro. E tudo isto andando na cara do touro com a cadência e a graciosidade de quem acredita que o acto de um toureiro estar parado «oculta muitos defeitos».
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