Palminhas, palminhas, palminhas, palminhas...



O pesadelo começa aos primeiros acordes do pasodoble. O casal-que-foi-aos-toiros-porque-está-lá-o-social, a jovem turista japonesa, o provecto turista americano, alçam as mãozinhas e vá de bater palmas a compasso. Pavlov teria aqui muito que estudar. É assim nos circos, quando toda a companhia desfila ao som da orquestra, ou quando os palhaços pedem às crianças que batam palminhas. O fenómeno tem nome: infantilização, mau gosto, ignorância. Por mim, se fosse cavalo ou toiro, enchia a arena de cheirosa matéria orgânica, como forma de protesto. Se fosse empresário, faria o inverso do que se faz em concursos e talk-shows televisivos. Em vez de pôr um sujeito a mandar o público bater palmas, poria um com um cartaz que rezaria: não bater palminhas enquanto a música toca. Tenho esperança que um dia destes um toureiro levante a mão e peça ao maestro para calar a fanfarra, e com ela o enervante palmejar. Como fazem os matadores-que-matam-mesmo, quando pedem à banda que suspenda a música no momento da estocada. Mas estamos em Portugal. Aqui não se afere o êxito dos artistas pelas orelhas que cortam, mas pelas voltas ao redondel ou pela musiquinha que soa ou não soa. Quem manda é o Paquito Chocolatero... Ou o Nerva, que sempre é menos kitsch.
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